CABO VITÓRIO
PASSAGEM DE COMANDO NO CBMDF DESIDRATA A TROPA
Enquanto Roosevelt e Avelar fazem discurso político no palanque, bombeiros suam no asfalto em troca de comando do CBMDF

No dia 23 de julho, na Academia de Bombeiro Militar (ABMIL), o Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal realizou a cerimônia de troca de comando da corporação. O coronel Leonardo Duarte Raslan passou o bastão do Comando-Geral ao então subcomandante Moisés Alves Barcelos — popularmente conhecido entre a tropa como "Helicóptero Caído".
O glamour da ocasião, que reunia não apenas oficiais e comandantes, mas também políticos como Roosevelt Vilela e o secretário Sandro Avelar, escondia a cena constrangedora por trás da pompa: centenas de bombeiros, a maioria em plena folga, foram forçados a permanecer por horas sob o sol escaldante em forma, em pé e enfileirados, usando roupas completas de combate — incluindo calça, capa e capacete. Peso médio? 12 quilos. E foi feita para o combate, não para desfile.
As autoridades, protegidas do sol, bem acomodadas, servidas e com água gelada à disposição, discursaram longamente. Enquanto isso, os praças suavam, desidratavam e, em alguns casos, apresentavam sinais de mal-estar.
"Essa roupa desidrata qualquer um. Não é feita pra parada, é feita pra combate", relatou um dos militares, que preferiu não se identificar. Outros confirmaram que alguns colegas precisaram pedir para sair da formação por passarem mal. A situação revoltou a tropa. “Não tinha isso antes. Em outras solenidades, a farda era a operacional leve. Dessa vez quiseram enfeitar a apresentação. A troco de quê? Instagram de deputado?”
A escolha de expor os bombeiros a uma condição extrema só pra “fazer bonito na foto” levanta, mais uma vez, a crítica: até quando a vaidade de oficiais e políticos vai se sobrepor ao que realmente importa — a saúde da tropa?
Se é pra aplaudir discurso de político, que seja com o mínimo de dignidade. O que se viu ali foi um desfile de vaidade institucional sustentado às custas de bombeiros adoecendo sob o sol.
Não foi homenagem. Foi humilhação fantasiada de cerimônia. Enquanto oficiais e políticos sorriam para as câmeras, quem suava no asfalto era a base da corporação — usada como cenário, tratada como figurante. Se a troca de comando já começa assim, o que esperar do resto?
COMENTÁRIOS