CABO VITÓRIO
IBANEIS ROCHA SOB SUSPEITA: QUANDO O ESTADO FINANCIA PROJETOS PESSOAIS DE GOVERNADORES
R$ 937 mil do Fundo Constitucional. Dois tratores. Uma incorporadora com o nome do governador. E o pedido assinado enquanto ele ainda está no cargo. Coincidência? Só se for no dicionário da cara de pau.

🔴 1. O Governador que assina pedido de dinheiro público — para ele mesmo
Ibaneis Rocha não se contenta em governar o Distrito Federal. Agora, quer também um tratorzinho — pago com dinheiro do povo. E não é força de expressão: o atual governador protocolou, em 8 de julho de 2025, uma carta-consulta oficial pedindo R$ 937 mil ao Fundo Constitucional de Financiamento do Centro-Oeste (FCO). O pedido foi feito por sua própria empresa, a Ibaneis Administradora de Bens Patrimoniais Ltda, da qual ele é dono único, absoluto e orgulhoso — com 100% do capital social em seu nome.
O objetivo? Comprar dois tratores agrícolas. Para quê? Para turbinar as atividades imobiliárias da sua empresa, enquanto ele ainda ocupa a cadeira de chefe do Executivo.
É isso mesmo: o governador no cargo usando fundo federal subsidiado — com juros camaradas e recursos públicos — para alavancar o próprio negócio. Um escândalo de manual.
E não estamos falando de um deslize técnico ou de um detalhe escondido no rodapé. O pedido é oficial, rastreável e documentado, com número de protocolo, plano de negócios e projeções de crescimento de receita. É o tipo de situação que deveria disparar todos os alarmes institucionais — mas, por enquanto, tudo permanece em silêncio.
Enquanto isso, Ibaneis joga em dois times ao mesmo tempo: o que governa o dinheiro e o que pede para recebê-lo.
É o primeiro governo assumidamente não binário do Brasil: de um lado, guarda a chave; do outro, arromba a porta.
Não é só imoral. É um conflito de interesses explícito, vedado por lei, ignorado por conveniência e exposto com a ousadia de quem se acostumou a nunca ser cobrado.
Tudo documentado. Tudo oficial.
Só falta alguém com coragem de dizer: isso aqui é roubo institucionalizado com CNPJ e carta-consulta.
🟡 2. O conflito que a lei já previa — e ele ignorou
Não é falta de norma. Não é zona cinzenta. É letra clara da lei — e Ibaneis passou por cima.
A Lei Orgânica do Distrito Federal proíbe que o governador seja proprietário de empresa que receba qualquer tipo de favor decorrente de contrato com o poder público — seja com o GDF, com a União ou com banco público federal. E é exatamente o que ele tenta fazer.
Como único dono da Ibaneis Administradora de Bens Patrimoniais Ltda, o governador assinou uma carta-consulta para captar R$ 937 mil em crédito subsidiado junto ao Fundo Constitucional do Centro-Oeste (FCO) — programa público com juros reduzidos e condições especiais, operado pelo Banco do Brasil e abastecido com recursos federais.
A vedação está no art. 62 da LODF, que veda essa conduta aos deputados distritais e, por força do art. 98, estende a proibição ao governador:
Art. 62. Os Deputados Distritais não poderão:
I - desde a expedição do diploma:
a) firmar ou manter contrato com pessoa jurídica de direito público, autarquia, empresa pública, sociedade de economia mista ou empresa concessionária de serviço público, salvo quando o contrato obedecer a cláusulas uniformes;
[...]
II - desde a posse:
a) ser proprietários, controladores ou diretores de empresa que goze de favor decorrente de contrato com pessoa jurídica de direito público, ou nela exercer função remunerada;
[...]
Art. 98. Aplicam-se ao Governador e ao Vice-Governador, no que couber, as proibições e impedimentos estabelecidos para os Deputados Distritais, fixados no art. 62.
Não tem brecha. Fundo público, subsídio estatal, contrato bancado com dinheiro da União — tudo dentro da zona de vedação.
Mesmo assim, Ibaneis avançou: protocolou o pedido, anexou projeções milionárias da empresa e se colocou formalmente como beneficiário. É o próprio governador pleiteando recursos públicos para um negócio particular do qual ele é o único dono.
O governador Ibaneis Rocha está tentando algo inédito até para os padrões de Brasília: usar um fundo federal subsidiado para bancar a expansão da própria empresa. O pedido de quase 1 milhão de reais expõe um escândalo silencioso, onde o conflito de interesses não é mais uma suspeita — é política de gestão.
Se alguém disser que é “polêmico”, é porque não leu — ou não quer ler.
🧱 3. A empresa que virou extensão do Gabinete
A Ibaneis Administradora de Bens Patrimoniais Ltda não é só uma empresa com CNPJ. É o prolongamento jurídico da própria pessoa do governador. Não há sócios, não há laranjas, não há família na estrutura societária. Ibaneis Rocha é o início, o meio e o fim do negócio — com 100% das cotas em seu nome e atuação direta no setor imobiliário, um dos mais sensíveis às decisões políticas do Executivo.
A carta-consulta apresentada ao FCO deixa isso escancarado: o pedido de R$ 937 mil foi feito em nome da empresa pessoal do governador, com o objetivo declarado de financiar tratores agrícolas para supostamente ampliar as obras de incorporação imobiliária.
O plano de negócios, anexado ao pedido, projeta um crescimento agressivo: a empresa declara R$ 14,9 milhões de receita bruta nos últimos 12 meses e pretende chegar a R$ 36,2 milhões por ano até 2030. Não estamos diante de um pequeno empreendedor do campo — mas de um agente político com negócios multimilionários, operando com apoio do Estado que ele mesmo comanda.
Essa fusão entre cargo e empresa é o que torna tudo mais grave. A atividade empresarial de Ibaneis está ativa, em expansão — e agora busca dinheiro público subsidiado. A sede do empreendimento? Na Zona Cívico-Administrativa de Brasília. Literalmente ao lado do poder, com um pé no gabinete e outro na operação comercial.
🎭 Ibaneis: governador de dia, empresário de verba pública à noite
É nesse ponto que a empresa deixa de ser uma simples pessoa jurídica.
Ela vira uma extensão patrimonial do próprio governo.
E o conflito de interesse ganha CNPJ, trator e protocolo.
🧾 4. NÃO É A PRIMEIRA VEZ: QUANDO O GOVERNO VIRA SÓCIO DO GOVERNADOR
O pedido de R$ 937 mil feito em 2025 não é acidente, nem exceção. É só mais um capítulo de uma história antiga: o uso do cargo público para turbinar os negócios privados de quem ocupa o poder.
A Ibaneis Administradora de Bens Patrimoniais Ltda, empresa que leva o nome e pertence integralmente ao atual governador do Distrito Federal, já havia sido beneficiada diretamente pelo Estado em 2019, logo no início do seu primeiro mandato.
Naquele ano, a empresa foi agraciada com a concessão de uso de um terreno público de mais de 1.200 m² no Setor de Indústrias Gráficas (SIG) — uma área valorizada, entregue sem licitação, sob a justificativa de inexigibilidade. Tudo publicado no DODF de 13 de agosto de 2019, processo nº 2019.02.60.7006.001.
E o detalhe que transforma o caso em vergonha pública: o processo, ao que parece, estava parado desde 2013. Dormiu por seis anos. Só destravou depois que Ibaneis sentou na cadeira de governador. E menos de um ano depois, o contrato já estava assinado — por ele mesmo, como autoridade pública, beneficiando a própria empresa.
Sem concorrência.
Sem pudor.
Sem conflito — ao menos na cabeça de quem assina nos dois lados da mesa.
Esse histórico é o que torna o pedido de 2025 ainda mais grave. Não estamos diante de um desvio pontual. Estamos diante de um padrão de conduta institucionalizada, onde o Estado não atua como fiscal da legalidade, mas como extensão da incorporadora do governador.
🔻 5. O Estado como cartório de interesses particulares de Ibaneis
A concessão do terreno público em 2019 foi só o começo. No ano seguinte, o governo de Ibaneis Rocha foi ainda mais fundo: suspendeu o pagamento de ITBI sobre 139 imóveis ligados à sua empresa e à da ex-esposa, Luzineide Getro, por meio de atos declaratórios assinados por servidores subordinados à sua gestão.
A estimativa de renúncia fiscal mínima era de R$ 1,5 milhão, podendo ter sido muito maior — os imóveis, juntos, somavam à época mais de R$ 61 milhões em valor venal, e muitos estão subavaliados no cadastro público.
Os atos nº 362 e 363, publicados em julho de 2020, foram emitidos pela Secretaria de Economia do DF e assinados em tempo recorde: um foi finalizado em 8 dias, o outro em apenas 6. Tudo dentro de casa, tudo dentro do mesmo círculo de poder.
O argumento oficial? Uma “cisão empresarial” ocorrida entre a empresa de Ibaneis e a de Luzineide. Mas há um problema jurídico grave: a Constituição e a legislação local proíbem a isenção do ITBI quando a atividade preponderante da empresa é compra, venda ou locação de imóveis — exatamente o que consta nos CNPJs das duas empresas beneficiadas.
Mesmo assim, a justificativa usada foi a de que “ainda não foi caracterizada a atividade preponderante da empresa adquirente” — ignorando o próprio registro fiscal que aponta como atividade principal a locação, e como atividade secundária a compra e venda de imóveis.
Na prática, foi uma manobra patrimonial vestida de ato técnico. E mais uma vez, beneficiário e signatário operando dentro do mesmo governo.
Primeiro, o terreno sem licitação.
Depois, a isenção fiscal multimilionária.
Agora, o pedido de financiamento com juros subsidiados.
Ibaneis não governa um território. Ele administra um portfólio.
E o Estado, nesse modelo, não regula. Ele autentica.
Como um cartório de luxo, carimbando os interesses do dono da caneta.
✅ Conclusão: um governo a serviço de um CPF — e de uma ex-esposa dos sonhos
Ibaneis Rocha não administra o Distrito Federal — ele gere um conglomerado pessoal com CNPJ, DODF e orçamento público à disposição. Ao longo dos últimos anos, construiu um império político-patrimonial onde o interesse privado e o poder público não se enfrentam — se abraçam.
A empresa que leva seu nome vem sendo abastecida por favores oficiais desde o primeiro mandato: recebeu terreno público sem licitação, isenção milionária de ITBI e, agora, busca quase R$ 1 milhão em financiamento subsidiado — tudo isso enquanto Ibaneis ainda ocupa o cargo de governador. Tudo documentado. Tudo feito à luz do dia.
E no centro desse tabuleiro, uma personagem constante: Luzineide Getro, a ex-esposa dos sonhos — que por pouco não virou o símbolo da “preponderância” do amor... tributário. O nome dela reaparece sempre que a empresa precisa de um arranjo societário novo para escapar das amarras fiscais — como na cisão que “transformou” 139 imóveis em isentos, justamente durante a gestão do ex-marido. O casal pode ter se separado no papel, mas no mundo dos negócios públicos, a parceria segue firme.
Ibaneis trata o governo como uma extensão da própria incorporadora.
E trata o contribuinte como sócio minoritário — aquele que paga a conta, mas não apita em nada.
Porque quando o governador é o dono da empresa, o chefe da máquina e o avalista das próprias vantagens... quem, exatamente, vai dizer “não”?
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