
CULÊ CULÊ, TUDO É PORCO!
Valparaíso de Goiás e a síndrome do pitbull de guarda
Valparaíso de Goiás parece ter assumido de vez o protagonismo em uma novela tragicômica que mistura política de baixa qualidade, memória seletiva e a velha tática do “pão e circo”. Em tempos de festividades, é como se a cidade, de uma hora para outra, fosse tomada por um surto coletivo de amnésia, daqueles que fariam qualquer roteirista da Globo levantar da cadeira e bater palmas.
Os caciques políticos da região, que até ontem estavam em uma verdadeira rinha de egos e acusações públicas, agora parecem ter descoberto a fórmula mágica da civilidade repentina. E qual seria essa fórmula? Uma boa festa, flashes, tapinhas nas costas e um fotógrafo por perto. A escola Lula-Alckmin fez escola, literalmente — a arte de cuspir farpas e, meses depois, posar lado a lado como bons e velhos amigos.
Mas se engana quem pensa que essa peça encenada é novidade. Já faz tempo que a política em Valparaíso virou espetáculo. E, como em toda boa peça teatral, o público é chamado para aplaudir, mesmo quando falta figurino, roteiro e, principalmente, coerência.
A massa de manobra e os pitbulls de estimação
Durante as últimas eleições municipais, o cenário foi digno de um UFC político nas redes sociais. Adesivos foram arrancados, bandeiras trocadas, ofensas disparadas como se não houvesse amanhã — e, em alguns casos, as vias de fato foram literalmente alcançadas. Tudo em nome de líderes que, hoje, tomam café juntos e sorriem para a câmera como bons companheiros de infância.
E os eleitores, claro, continuam com suas coleiras bem presas, defendendo com unhas e dentes seus políticos de estimação, sem perceber que, muitas vezes, estão latindo por quem sequer se importa com suas feridas.
Pão, circo e UPA fechada
Enquanto a população se diverte com shows e fogos de artifício, um detalhe pequeno — quase irrelevante — passa despercebido: a saúde pública. A UPA segue fechada há anos, os hospitais do Céu Azul e o CAIS não dão conta da demanda, e muitos moradores continuam enfrentando filas, descaso e improvisos quando o assunto é atendimento médico. Mas quem precisa disso quando se tem um Sirio Libanês… em Brasília, claro?
As prioridades são claras: palco, iluminação, som de qualidade e camarotes. A saúde, bem… essa que espere uma próxima inauguração de maquete.
Imprensa, onde estás que não te vejo?
Boa parte da imprensa local segue no modo automático: cobertura colorida, releases prontos, fotos bem produzidas e manchetes que dariam orgulho a qualquer agência de turismo. A dura realidade da cidade, no entanto, raramente é pauta — talvez porque manchetes sobre falta de leitos, viadutos inacabados ou escolas sucateadas não combinem com os tapetes vermelhos dos eventos oficiais.
E por falar em viaduto, alguém sabe dizer onde foi parar aquele que deveria ter sido entregue ainda no governo passado? Ou será que foi engolido por algum buraco negro administrativo?
Conclusão (não tão conclusiva)
A política em Valparaíso de Goiás, ao que tudo indica, segue seu curso natural: escândalos no ano ímpar, alianças no ano par. E o povo, com ou sem saúde, com ou sem viaduto, segue sendo o pano de fundo de uma peça que insiste em se repetir. Só resta saber até quando a plateia vai continuar aplaudindo.
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